quinta-feira, 18 de junho de 2015

Uma ovelha na estrada

Fim de tarde dum Sábado.

Saio da cidade e dirijo pela Nacional, que não me apetece pagar autoestrada.
Ao fundo do troço, vejo algo grande, claro, aos saltos da estrada para a berma.
Primeiro, penso ser um cão grande... Mas, não, é uma ovelha.
Que, de alguma maneira, fugiu do pasto e não conseguiu voltar.

Penso no perigo que aquilo significa: alguém mandar uma pantufada nela, seria mau para a ovelha, para o dono da ovelha, para o dono do carro e, eventualmente, para os passageiros. Além de poder originar um choque em cadeia.

Estaciono o carro na berma e saio, para tentar encaminhá-la para algum portão ou buraco na cerca. Não tenho ilusões: ela é grande demais para a poder agarrar e segurar, ou levantar.

A bicha, mal me vê aproximar, foge.
Para o meio da estrada... :(
Deito as mãos à cabeça, que vem lá um carro, mas eles avançam devagar e não há incidentes.

Ligo o 112 e explico a situação. Enfio-me no carro e espero. Passado um pouco, a PSP liga-me. Explico de novo a situação, dou a minha localização certinha. "Entre a aldeia A e a rotunda B, ao lado da empresa C." O agente entende-me e agradece-me. Pergunto se vão mandar alguém, e diz-me que sim, que vão.

Decido esperar.
Sempre fico de olho na ovelha, para a indicar a quem vem, e se houver algum acidente, estou ali para testemunhar.

Espero... E espero... E espero...
A ovelha anda para ali aos saltos, ora sossegada, ora assustada.
Entretanto, as outras ovelhas no pasto berram por ela. E ela berra também.
E mete-se na estrada de novo e vai para a rotunda.
Deito as mãos à cabeça, de novo... E a Polícia que não vem.

A bicha assusta-se e regressa para perto de mim, para a berma.
Menos mal.

Pego no telefone: passaram 15 minutos desde que liguei para o 112.
Ligo para o número da PSP que me tinha ligado, e pergunto se não mandam ninguém.

O Agente diz-me que os colegas já ali estiveram 3 vezes e não viram nada. Educadamente, respondo que não, ninguém passou ali, pelo menos num carro identificado.
Ele pede-me para não desligar e chama os agentes que deveriam ter vindo, perguntando onde estavam. Está danado com os colegas, que não estão onde deveriam estar, e até consegue ouvir a desgraçada da ovelha a berrar.
Eles alegam qualquer coisa que eu não ouço.
Ele dá-lhe as indicações de novo: "Entre a aldeia A e a rotunda B, ao lado da empresa C.". Não há que enganar.

E diz-me que eles devem estar a aparecer, e vamos conversando sobre pessoas que não nascem para determinadas profissões. Eu comento que eles não devem é ter vontade de andar atrás de uma ovelha...
Vai-me perguntando se já os vejo e eu respondo que não. E ele vai falando com eles, a insistir na minha localização.

Entretanto, outro carro pára, no lado oposto ao meu, e sai de lá um homem que se encaminha para a ovelha.
Comento isso com o Agente e digo-lhe que vou ver se tem alguma coisa a ver com a ovelha.
"Boa tarde", digo, "Desculpe-me, mas o senhor tem alguma coisa a ver com esta ovelha?"
Ao que ele me responde: "É do meu sobrinho, ali daquela quinta, já a encaminhei para o portão. Pareceu-me tê-la visto quando fui à Aldeia D, mas não pude parar na altura."

Vejo, de longe, que o portão está fechado. Faço o meu melhor sorriso e puppy eyes e peço: "Olhe, já que é da família, importa-se de ir abrir o portão e metê-la lá para dentro? Não vá ela voltar para a estrada e acontecer algum acidente... Tenho estado aqui aflita e até já chamei a polícia, mas ainda não apareceram..."

O senhor olha para mim e deve ter pensado: "Raio da mulher, que eu queria era ir sossegado para casa...", mas lá foi.

E eu ao telefone com o Agente, e ele a perguntar-me se já tinha visto os colegas.
"Não, ainda não..."

Até que os vi, ao longe, e disse: "Olhe, já apareceram!... Já lhes faço sinal para pararem."
Nesse instante, a senhora que estava no carro do outro senhor, e que também já tinha saído do carro e aproximado de mim, diz-me: "Ele já conseguiu meter a ovelha lá dentro."

Faço sinal para pararem, eles param e saem do carro. Faço o "meu melhor sorriso profissional" que a Coccinelita tanto gostava de me ver fazer, e pergunto: "Então, foi difícil dar com isto?..."
Ao que um deles me responde: "Foi a Central que nos deu mal as indicações. Disse-nos que era ao pé da rotunda Y e era na rotunda B..."
E eu penso: "MENTIROSOS... Eu OUVI as indicações..." Mas não digo nada acerca disso, digo apenas que o tio do dono já conseguiu meter a ovelha para o outro lado da cerca.
E um deles, ainda acrescenta, em jeito de desculpa de mau pagador: "E o que faríamos nós com uma ovelha?..."
Ao que eu respondo: "Sempre eram dois para a tentar apanhar, ao passo que eu era só uma e não tinha força para a agarrar sequer..."
[Também lhes podia ter dito para fazerem um guisado... ]

Enfim, chegaram quando o serviço estava feito e ainda mentiram. Foram embora e eu disse ao outro casal que era mentira aquela conversa da Central ter dado as indicações erradas.
Despedi-me deles e agradeci-lhes a ajuda e voltei para o carro.

Olhei para o telemóvel...
E liguei de novo ao Agente que me tinha ligado: "Olhe, era só para dizer que os seus colegas chegaram ao pé de nós e dissera que a culpa era da Central que tinha dado as indicações erradas..."
 
[Sim, fiz queixinhas, pois não gostei da atitude daqueles agentes, que demoraram 25 minutos a aparecer e ainda mentiram... Se tivesse ocorrido algum acidente e alguém se tivesse magoado, queria ver como era...]

Falámos mais um bocadinho e pus-me a andar, feliz e contente por ter contribuído para que uma ovelha não fosse atropelada... :)

1 comentário:

Sopra no vento o que pensas, sentes ou sonhas... Que o vento trará até ao alto da minha árvore as tuas palavras...

Obrigada...