... e muito bem.
Costuma-se dizer que o dinheiro e o sexo fazem mover o mundo.
Pois, além destes, temos o medo.
Compramos seguros de saúde/casas, etc, porque temos MEDO do que nos possa acontecer.
Compramos sistemas de alarme anti-roubo, compramos seguranças que nos chegam a roubar, compramos armas que nem sempre sabemos usar, compramos vacinas duvidosas, compramos tudo o que nos faça sentir mais seguros, mesmo que essa segurança seja falsa e ilusória.
E quando andamos distraídos, porque o espírito é de férias, e não queremos saber das desgraças do mundo, e deixamos de ver os assustadores jornais televisivos, levamos com outra dose de MEDO, porque há compras a fazer, há produtos a consumir, há bolsos a enriquecer (e não, não são os nossos...).
E de onde vem esta conversa, hoje?
De ter ido a um supermercado Modelo, ontem, e me ter sido entregue um folheto cujo título é, no mínimo, parvo:
"
PREVINA-SE E VIVA".
Peguei nele, juntamente com a Revista do Clube de Produtores (mas esta é outra conversa, para outro dia), a pensar: "Deve ser mais alguma gripe, ou assim..."
Este folheto, que mostra a preocupação do estado para com o povinho (leiam esta frase com toda a ironia que conseguirem),
adverte que devemos ter em casa comida suficiente para 2 semanas sem acesso a supermercados, sem água, sem luz, sem gás.Ok...
Vamos por partes.
O que faria com que eu não tivesse acesso a compras durante 2 semanas?1 -
Impossibilidade minha.Tipo, ter partido uma perna, ou assim. Mas isso não seria muito crítico, porque alguém faria as compras por mim.
Fácil de prevenir:
Ter cuidado com o que faço. :p
2 -
Falta de bens no mercado (1).Haver uma calamidade qualquer que impediria a produção normal. Como a falta de trigo russo devido à seca, a perda das hortícolas do Oeste, as geadas nas fruteiras, o derrame de petróleo no mar, contaminação de águas potáveis por poluentes, entre outras calamidades agrícolas, piscatórias e ambientais. Problemas bastante sérios, com maior ou menor sazonalidade e durabilidade, que se prendem àquele que muitos desdenham, esquecendo-se que o seu nome advém por ser o mais importante para a nossa vida: o Sector Primário.
Difícil de prevenir, mas se se incrementar o nosso sector primário, se se consumir produtos portugueses, deixaremos de estar tão dependentes do exterior. Porque quer queiramos, quer não, existe sempre um "nós" (seja, "eu" "família", "cidade", "país") e um "outros", que são externos a nós. E que não se preocuparão connosco, se tivermos fome, mas sim tentarão enriquecer às nossas custas.
3 -
Falta de bens no mercado (2).Impedimento da distribuição, mesmo havendo produtos.
Como a greve dos camionistas ou acontecimentos climatéricos (neve nas estradas, rebentamento de canalizações, por ex.). É um impedimento localizado, de relativa curta duração, pois as pessoas teriam acesso aos produtos locais, embora não globais.
4 -
Politiquices.Tanto de
mercado, como de
governo.
- Na ausência de alguns produtos para adquirimos outros, mais caros. Na desculpa da falta de produção de um lado, para arranjarem outros produtos iguais noutro lado, mas com preços maiores (como na altura das perdas das hortícolas do Oeste).
Fácil de prevenir:
Muda-se de mercado, adquirem-se outros fornecedores, passa-se do hiper para a frutaria/mercearia da zona. Exige-se o produto que queremos, batemos o pé. Reclamamos. Mostramos a nossa insatisfação e as nossas exigências. Dominamos o mercado e não nos dominamos por ele, dentro do que podemos avançar.
Recusamos o produto que não queriamos em 1º lugar até nos arranjarem o desejado.
Costumo dizer que os consumidores estão mal educados e mal informados. Só adquirem o que lhes metem à frente, com técnicas de marketing manipulativas e influenciadoras. E depois, vêm-se as desgraças que se vêm.
(Quantos de vós reclamam, mesmo que seja a nível interno, nos grandes mercados, quando se sentem lesados?)- Na falência de bancos. No fecho de fronteiras. Na guerra. No recolher obrigatório.
Impedimentos muito graves, de duração sempre maior que o desejado.
Não muito fácil de prevenir...
Estar atento às mudanças políticas e à direcção dos estados.
(Ou não... Afinal, isso é deprimente por si só... E a depressão leva ao abuso e à dependência de substâncias "de felicidade", legais ou não, e a novos maus hábitos de consumo... :p )
e finalmente,
5 - Na
falta de dinheiro, puro e simples, o que adviria no meu caso, em que ele não abunda, duma crise a nível laboral ou pessoal, a qual não afectaria a maioria da população, apenas os meus "dependentes".
Portanto, e a menos que se adivinhe alguma crise política estatal, não vejo necessidade no investimento deste tipo de informação, pelo menos nesta altura.
E isto soa-me a "vamos criar o medo e assustar as pessoas para terem em casa não sei quantas latas e não sei quantos litros de água", mas com a advertência de "atenção aos prazos de validade, substituam os produtos sempre que necessários..."
Pois, dá jeito.
As vendas estão em baixo, as pessoas (não é a economia) estão em crise, há produtos que não compramos a menos que nos assustem.
E então, tomem lá um folheto a mostrar a preocupação do Estado para com o seu rebanho...
Poupem-me, sim?...
Não estou de férias, tenho sempre comida e água de reserva (porque pode não me apetecer ir às compras, porque pode rebentar um cano na rua) e não, não tenho uma mochila transportável com não-sei-o quê extremamente útil para a minha sobrevivência.
E cada vez mais estabeleço contactos com produtores nacionais e o que puder comprar directamente, como fruta, azeite, hortaliças, ..., não vou comprar a grandes grupos económicos nenhuns.