Tia Zi

Hoje, a minha tia Zi faria 72 anos.

Se não tivesse falecido em Maio passado.

Não lamento a morte dela... Ela estava num sofrimento muito grande e, pior que tudo, consciente quase até ao fim.

O corpo já estava em falência, já estava internada há algum tempo, o cancro que tinha surgido no Natal de 2004 já a tinha consumido...

Foram 4 anos de luta. De Esperança, duma Força imensa, duma Fé inabalável. Dizia que, se Deus lhe tinha dado esta doença, era porque sabia que ela iria conseguir lutar. E lutou. Acredito que ensinou muita gente a enfrentar as coisas de cabeça erguida.

E nos últimos tempos, quando o cancro também já lhe tinha afectado os pulmões e ela já estava muito cansada, já lhe custava respirar e andar e fazer coisas mesmo simples, ela simplesmente preparou as coisas para partir.

E uma das coisas que fez foi agradecer a Deus ter tido uma vida boa, ter viajado muito e, acima de tudo, a família que teve. Ela era solteira, não tinha filhos, mas como ela dizia, tinha os irmãos e os sobrinhos.

As coisas que mais associo a ela, enquanto garota e adolescente, era os "mimos" que ela nos trazia de França, na época em que lá dava aulas de Português: ovinhos Kinder, quando em Portugal ainda nem se sabia o que isso era... Lembro-me das canções que ela nos ensinou, que cantávamos nas viagens mais longas (e naquele tempo, sem auto-estradas, quase todas eram longas), lembro-me das rosas perfumadas e das outras flores dela, de fazer wafers caseiras para o nosso lanche, de tentar pacientemente ensinar-me (a mim, autêntica maria-rapaz!!!) a fazer frioleiras quando estávamos de férias na praia, dos joguinhos com pedrinhas que nos ensinava e que nos entretia horas e horas... Lembro-me da minha ida a França, com uns 10 anos, e de ter achado que estava quase noutro mundo, de ter sido com ela que vi aveleiras pela primeira vez e ter tido o desejo secreto que o Tico e o Teco andassem por ali...

Já mulher, lembro-me de tudo o que se passou desde que ficou doente, como referi acima, mas também me lembro que ela era uma Senhora, calma, discreta, apaziguadora, com umas unhas fantasticamente arranjadas e pintadas de vermelho, bem disposta, dinâmica, excelente condutora e acima de tudo, independente. É a pessoa solteira mais independente que conheci!

Aquando do final, despedia-me dela de cada vez que a visitava, pois aquela visita poderia ser a última. Mas despedia-me sempre como se houvesse uma próxima vez, brincava com ela se queria vir comigo, e ela sorria (sorria sempre, mesmo com consciência que nem que quisesse, não tinha condições para ir comigo) e dizia "Está lá muito frio...".

Não lamento ela ter morrido, a morte dela foi um alívio para mim, por saber que já não sofria e por acreditar que ela agora está num sítio melhor, pois acredito que o que quer que seja que nos espera do Outro Lado, seja mais puro e cheio de Luz do que o lado de cá.

E ela merece e mereceu o seu cantinho do Céu.

Por isso, hoje, agradeço a Deus a oportunidade de a ter conhecido, de ter convivido com ela, de ter trocado Amor e carinho com ela.

Ficam sempre a Tristeza da partida e as Saudades...

Obrigada, tia Zi, por teres existido e teres pertencido à minha vida, por tudo o que me ensinaste e deste do teu coração.

Com saudades,

um beijinho grande

da tua

sobrinha mais nova.